Olá, caros leitores, hoje apresentamos a vocês um artigo que foi premiado como Melhor Artigo da Divisão de Contabilidade no V AdCont 2014,
na UFRJ. O artigo é de Autoria de dois professores do Departamento de Finanças e Contabilidade da UFPB, juntamente com dois mestrandos do programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/ UFPB/ UFRN.
Análise do Conservadorismo e Persistência dos Resultados
Contábeis das Instituições
Financeiras Brasileiras
Marcelo Paulo de Arruda
Programa Multi-institucional e
Inter-regional UnB/UFPB/UFRN marcelopaulo.jp@uol.com.br
Carlos André Marinho Vieira
Programa Multi-institucional e
Inter-regional UnB/UFPB/UFRN
c.andre.mv@gmail.com
Edilson Paulo
Programa Multi-institucional e
Inter-regional UnB/UFPB/UFRN
e.paulo@uol.com.br
Wenner Glaucio Lopes Lucena
Programa Multi-institucional e
Inter-regional UnB/UFPB/UFRN wdlucena@yahoo.com.br
Resumo
O ambiente regulatório das
companhias abertas e fechadas apresenta diferenças significativas na qualidade
das informações contábeis entre as companhias abertas e fechadas (BALL;
SHIVAKUMAR, 2005). Entretanto, a literatura tem sugerido que o processo de mensuração
contábil das instituições financeiras se diferenciam substancialmente das
demais companhias (PEASNELL et al, 2000). Apesar disso, os estudos anteriores
não analisam sistematicamente as diferenças informacionais entre as
instituições financeiras abertas e fechadas. Assim, podese descrever o seguinte
problema de pesquisa: Os níveis de conservadorismo e de persistência
apresentados pelas instituições financeiras abertas se diferenciam das
fechadas? O objetivo deste trabalho foi analisar comportamento dos níveis de
conservadorismo e de persistência dos resultados contábeis das instituições
financeiras abertas e fechadas brasileiras. Para atender ao objetivo deste
trabalho, foi efetuado uma análise dos dados com base nos modelos de
conservadorismo proposto por Ball e Shivakumar (2005) e de persistência
descrito por Dechow e Schrand (2004), estimados por meio de dados em painel. A
amostra foi composta pelas instituições financeiras brasileiras abertas e
fechadas no período compreendido entre 1996 e 2013. Os resultados desta
pesquisa identificaram que nenhum dos tipos de instituição financeira (abertas
e fechadas) apresenta reconhecimento oportuno das perdas ocorridas no período
analisado. Em relação a persistência dos resultados contábeis, as análises apontam
que as instituições financeiras fechadas apresentam maior persistência em seus
resultados contábeis que as instituições abertas, resultando em maior
previsibilidade dos lucros futuros pelos lucros presentes. Esses resultados
sugerem que os resultados contábeis das instituições financeiras brasileiras
não apresentam comportamento conservador, além disso, os lucros das companhias
fechadas são mais persistentes do as abertas.
Palavras-Chave:
Qualidade das informações contábeis; Conservadorismo; Persistência;
Instituições Financeiras.
Área
temática: Contabilidade Financeira.
1 Introdução
A Contabilidade tem como um dos seus principais objetivos
fornecer informações para a tomada de decisão. Porém, a qualidade da informação
contábil pode sofrer influência dos interesses dos agentes (JENSEN; MECKLING,
1976).
A qualidade das informações contábeis sofre influência das
características institucionais e organizacionais das firmas e do ambiente
empresarial (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010). Ao se analisar a qualidade das
informações contábeis em companhias abertas e fechadas no Reino Unido, Ball e
Shivakumar (2005) argumentam que companhias fechadas estão sujeitas a regulação
similar àquela disposta para as companhias abertas, porém, seus usuários da
informação contábil são substancialmente diferentes. Sendo assim, a forma de
organização de uma empresa é considerada um fator que afeta a qualidade das
informações reportadas pelas companhias.
A literatura corrente tem sugerido que o processo de
mensuração contábil das instituições financeiras se diferenciam
substancialmente das demais companhias (PEASNELL et al, 2000). Apesar disso, os
estudos anteriores não analisam sistematicamente as diferenças informacionais
entre as instituições financeiras abertas e fechadas.
Sendo a persistência qualidade desejável para se prever o
lucro das empresas tidas como opções de investimento pelos investidores dos
mercados financeiros, é de se esperar que empresas abertas tenham um maior grau
de persistência dos seus resultados que empresas fechadas.
Nichols, Wahlen e Wieland (2009) argumentam que, como bancos
apresentam um elevado grau de assimetria de informação em relação ao risco das
suas operações (risco de crédito, taxa de juros e de câmbio, instrumentos
derivativos) a demanda por informações e particularmente, por uma visão menos
otimista acerca dos seus resultados (conservadorismo). Com a separação entre
propriedade e controle, o acionista muitas vezes deixa de ser um agente interno
da empresa para se tornar um agente externo desta, ficando este dependente das
informações contábeis como instrumento para diminuição da assimetria
informacional entre o proprietário e o administrador. Nestes casos, a
verificabilidade da informação contábil por este agente diminui, ficando este
dependente das informações divulgadas pela administração e do parecer dos
auditores independentes acerca desta informação.
O conservadorismo se desenvolve como uma qualidade que
equilibra o viés otimista dos administradores acerca da informação contábil
divulgada, principalmente em relação à incerteza associada à assimetria da
informação, decorrente da separação entre propriedade e controle (WATTS, 2003).
Assim, pode-se descrever o seguinte problema de pesquisa: Os
níveis de conservadorismo e de persistência apresentados pelas instituições
financeiras abertas se diferenciam das fechadas? O objetivo deste trabalho foi
analisar comportamento dos níveis de conservadorismo e de persistência dos
resultados contábeis das instituições financeiras abertas e fechadas brasileiras.
Além dessa introdução, este trabalho contém a segunda seção
que apresenta o referencial teórico sobre a informação contábil; a terceira
parte é onde são descritos os procedimentos metodológicos utilizados; a quarta
seção apresenta e analisa os resultados encontrados; e na quinta são feitas as
considerações finais.
2 Revisão Da Literatura
No mercado financeiro há o intermédio de recursos entre
aqueles agentes superavitários (poupadores) para aqueles agentes que necessitam
de recursos para financiar seu consumo ou projetos de investimentos (agentes
deficitários). Para que os recursos sejam alocados nas melhores oportunidades
de investimento, são necessárias informações prévias sobre os agentes que o
poupador pretende financiar, ou seja, os agentes nos quais ele pretende
investir.
Estas informações são geradas por outros agentes denominados
intermediários informacionais, podendo ser citados os auditores, analistas de
ações, bancos de investimento. Muitas vezes a distinção entre os intermediários
financeiros e os intermediários da informação não é nítida, pois alguns destes
agentes operam nestes dois segmentos. Porém, no mercado financeiro, a
informação não é fornecida igualmente para todos os agentes econômicos, gerando
um fenômeno conhecido como assimetria informacional, onde um dos agentes
envolvidos em alguma transação detém mais informação do que o outro, oscilando
os níveis de informação conhecida pelas partes entre assimetria total e
simetria total (MARTINS; LOPES, 2005).
Alguns
autores (WATTS, 2003; BALL; SHIVAKUMAR, 2005, BUSHMAN;
PIOTROSKI, 2006) afirmam que a
qualidade da informação contábil pode sofrer influência de diversos fatores,
como o sistema de governança, regulação contábil e sistemas de normas,
tributação, auditoria, ambiente institucional, entre outros. Por tratar-se de
diferentes tipos de companhia (aberta e fechada) as diferentes estruturas
organizacionais e estruturais podem acarretar em diferentes níveis na qualidade
das informações contábeis reportadas por estas.
Dechow e Schrand (2004) afirmam que uma alta qualidade dos
lucros (também denominada como qualidade das informações contábeis) refletirá o
desempenho operacional atual das companhias, será bom indicador para o
desempenho operacional futuro e fornecerá com maior acurácia o valor intrínseco
da empresa. Com isto, pode-se inferir que é desejável uma alta qualidade das
informações contábeis reportadas pelas companhias, pois estas podem afetar a
tomada de decisões por parte dos investidores e demais usuários destas
informações.
Segundo Dechow, Ge e Schrand (2010), a qualidade das
informações contábeis pode ser considerada como um conjunto de diversos
atributos, como persistência, conservadorismo, gerenciamento de resultados
contábeis, qualidade na mensuração dos accruals,
transparência, relação dos números contábeis com o desempenho dos preços das
ações ou do valor de mercado da firma e nível de disclosure. O presente estudo tem como objetivo analisar as duas
primeiras qualidades abordadas anteriormente, a persistência dos resultados e o
conservadorismo contábil.
2.1 Conservadorismo
O entendimento geral conservadorismo contábil diz respeito à
antecipação do reconhecimento de perdas, mas a não antecipação do
reconhecimento dos lucros, ou a escolha de, entre duas opções de mensuração dos
componentes das demonstrações contábeis igualmente prováveis, a preferência por
aquela opção que consista em menor valor para os ativos e maior valor para os
passivos.
Basu (1997) conceitua o conservadorismo como o resultado que
reflete as más notícias de forma mais rápida do que as boas notícias. Paulo,
Cavalcante e Paulo (2013) corrobora esse entendimento, sugerindo que
conservadorismo implica decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos
ganhos e das perdas e, consequentemente, influencia a escolha contábil. Watts
(2003) trata o conservadorismo como requisitos de verificação assimétrica entre
ganhos e perdas, onde quanto maior a diferença no grau de verificação
necessária para ganhos em relação as perdas, maior o conservadorismo. Este
mesmo autor indica que pela distinção entre propriedade e controle, a
informação contábil tem sua verificabilidade diminuída para os agentes externos
à empresa, sendo o conservadorismo instrumento de balanceamento de qualquer
viés otimista por parte dos administradores em relação aos resultados
reportados.
O conservadorismo implica em decisões sobre o momento do
reconhecimento oportuno dos ganhos e das perdas e, consequentemente,
influenciando a escolha contábil.
Porém, como outras características
da informação contábil, o conservadorismo sofre influência do ambiente
institucional e organizacional das empresas (PAULO; MATINS, 2007). Watts (1993)
traz que esta qualidade da informação contábil é muito criticada pelos
reguladores do mercado de capitais, órgãos legisladores e acadêmicos porque
este “eufemismo” no período atual pode acarretar numa sobreavaliação de ganhos
em períodos futuros.
Segundo Watts (2003), o conservadorismo assegura que não
sejam reportadas informações excessivamente otimistas para os usuários das
informações contábeis. Paulo e Martins (2007, p. 5) inferem que o mesmo “[...]
implica em decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos ganhos e das
perdas e, consequentemente, influencia a escolha contábil. Porém [...] o
conservadorismo sofre influência do ambiente institucional e organizacional das
empresas”.
Mediante os conceitos anteriormente apresentados,
verifica-se que o conservadorismo está relacionado com momento ideal para o
reconhecimento das transações econômicas das companhias e que este
comportamento conservador por ser afetado conforme as características das
empresas.
2.2 Persistência dos resultados contábeis
A persistência é uma das qualidades da informação contábil,
onde Palepu, Healy e Bernard (2004) afirmam que a característica de predição é
a responsável pelo enorme interesse em torno da persistência dos resultados
contábeis, pois esta característica auxilia na avaliação dos ativos das
companhias.
As pesquisas relacionadas à persistência dos lucros
contábeis partem do pressuposto de que quanto mais persistentes os lucros das
empresas, maior será sua utilidade para a utilização de modelos de valuation. Uma melhora do processo
decisório num contexto de precificação de ações, em particular com a utilização
de modelos que são variações do modelo neoclássico de dividendos descontado,
ocorre se as variáveis base presentes (lucros, dividendos, fluxos de caixa) têm
a característica de prever os resultados futuros (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010).
Dechow, Ge e Schrand (2010) afirmam que os fluxos de caixa
são mais voláteis que os lucros contábeis, portanto os números contábeis têm
maior poder preditivos dos resultados futuros do que os fluxos de caixa. Sendo
que a utilização dos lucros como proxy
para a persistência dos resultados contábeis tem validade somente quando estes
refletem o verdadeiro resultado para um determinado período, estando livre de
manipulações. Deste modo, os accruals
são utilizados para suavizar os fluxos de caixa, diminuindo sua volatilidade
(DECHOW; SCHRAND, 2004), refletindo mais adequadamente o desempenho da firma.
Porém, conforme Paulo e Martins (2007, p. 4) “quando ocorrem
erros nas estimações dos accruals e
resultados transitórios [...] existe uma redução da persistência dos resultados
e isto leva à perda da utilidade da informação contábil na avaliação e previsão
sobre comportamentos futuros do desempenho da empresa”. Isto se deve ao fato de
algumas atividades empresariais necessitarem de mais estimações nos valores dos
componentes das suas demonstrações contábeis conforme o regime de competência
do que outras atividades, sendo muitas vezes estas estimações errôneas,
arbitrárias ou até mesmo propositais, onde estas ocorrências reduzem a
persistência dos lucros.
2.3 Estudos Anteriores
Beaty e Harris (1998) analisaram os resultados dos bancos
abertos e fechados norteamericanos no período de 1991 a 1992, e verificaram que
bancos abertos gerenciam mais resultados do que aqueles que não tem suas ações
negociadas na bolsa de valores, sendo aceita a hipótese de que a assimetria
informacional motiva empresas abertas a gerenciar resultados.
Resultados divergentes foram encontrados na pesquisa de
Burgstahler, Hail e Leuz (2006), onde foi analisado o efeito dos incentivos
para a divulgação de lucros pelas empresas. O trabalho concluiu que o aumento
de capital nos mercados de ações e o sistema legal estão associados com o nível
de gerenciamento de resultados entre os países europeus, tendo como achado o
fato de que o gerenciamento de resultados é mais difundido entre empresas
privadas, sendo aceita a hipótese de que os incentivos fornecidos pelo mercado
de capitais resultam em maior qualidade da informação contábil.
Nos estudos relacionados ao conservadorismo, Ball e
Shivakumar (2005) utilizaram a hipótese de que as demonstrações financeiras das
empresas fechadas apresentam menor qualidade em relação às empresas abertas em
razão de a demanda do mercado por estas informações ser menor, sendo esta
hipótese confirmada nos resultados da pesquisa.
Paulo, Antunes e Formigoni (2008) analisaram empresas
brasileiras abertas e fechadas no período de 2000 a 2004. Os resultados da
pesquisa mostram que as empresas fechadas apresentam menores níveis de
conservadorismo contábil em relação as empresas abertas, tendo como possíveis
razões para esta diferenciação nos resultados o fato de que as empresas abertas
são mais amplamente monitoradas pelo mercado ou o fato de que estas empresas
estão sujeitas a normas mais conservadoras pelos órgãos reguladores.
Dantas, Paulo e Medeiros (2013) buscaram analisar a
ocorrência de conservadorismo condicional dos bancos brasileiros no período de
2001 a 2010, principalmente, relacionando-o com a percepção de risco. Com isto,
os autores encontraram a existência de prática de conservadorismo condicional,
porém, quando relacionado com a percepção de risco, os autores não encontraram
evidências suficientes de maior acentuação do conservadorismo quando em momento
de risco sistêmico.
Em relação aos estudos internacionais sobre conservadorismo,
Nichols, Wahlen e Wieland (2009) examinaram como a estrutura de controle
(bancos abertos e fechados) afeta a performance econômica e a informação
contábil de 1.652 bancos fechados e 608 bancos abertos entre 1992 e 2002. Em
relação à qualidade da informação contábil, os achados da pesquisa mostram que
bancos abertos exibiam um maior grau de conservadorismo que aqueles fechados,
além de reconhecerem um maior valor de provisão para créditos de liquidação
duvidosas que aqueles abertos, considerando este como um componente que diminui
o lucro informado.
3. Procedimentos Metodológicos
3.1 Tipo e Método de Pesquisa
Quanto aos objetivos, esta pesquisa pode ser classificada
como descritiva, pois o estudo busca “[...] observar, registrar, analisar e
correlacionar fatos e fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.” (CERVO; BERVIAN,
2002, p.66).
O presente trabalho também se caracterizar, quanto aos
procedimentos, como uma pesquisa bibliográfica, a qual segundo Gil (2008) é
desenvolvida a partir de material já elaborado, principalmente livros e artigos
científicos.
Por fim, o estudo também é classificado como uma pesquisa
quantitativa, pois utilizase de modelos econométricos para alcançar os
objetivos propostos pelo presente estudo.
3.2 Seleção e Composição da Amostra
A população deste estudo é formada pelas instituições
financeiras abertas e fechadas brasileiras no período de 1996 a 2013, tendo
como justificativa o início do período de estabilização econômica no país
depois de décadas de combate à inflação (Tabela 1). As informações necessárias
para a realização da pesquisa foram coletadas no banco de dados do Banco
Central do Brasil (www.bcb.gov.br), compreendendo o período de 1995 a
2013.
Como os dados disponíveis para este estudo iniciam-se em
1996, o período para análise do nível de conservadorismo das firmas foi de 1998
a 2013, visto que o modelo operacional utilizado na análise quantitativa
necessita de dados defasados em dois anos. Já o período de análise do nível de
persistência dos lucros necessita de dados posteriores ao exercício para
avaliar a persistência do lucro no momento t, onde foram avaliadas as empresas
do período de 1996 até 2012.
Observa-se na Tabela 1 que a
não houve uma variação significativa nos números de instituições financeiras,
abertas e fechadas, durante o período analisado.
3.3. Desenvolvimento de Hipóteses e Definição
dos Modelos Empregados
Conforme Nichols, Wahlen e Wieland (2009) a separação entre
propriedade e controle, presente principalmente nos bancos abertos, exige um
maior grau de conservadorismo para a informação contábil reportada, para
balancear qualquer viés otimista dos administradores acerca dos resultados
obtidos.
Considerando que o ambiente institucional e organizacional
das companhias afeta o conservadorismo (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010), bem como
que as companhias abertas têm suas atividades monitoradas por mais órgãos
reguladores, espera-se que tais companhias sejam mais conservadoras do que as
companhias fechadas, apresentando a seguinte hipótese de pesquisa:
Hipótese
1: As demonstrações contábeis reportadas pelas instituições financeiras
abertas brasileiras são significativamente mais conservadoras que as adotadas
pelas companhias fechadas brasileiras.
Para mensuração do nível de conservadorismo das companhias
brasileiras, utilizou-se o modelo proposto por Ball e Shivakumar (2005),
conforme equação (1):
em que:
∆NIit
= variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t;
D∆NIit-1 = variável dummy para
indicar se existe variação negativa no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t (∆NIit), assumindo valor 1 se ∆NIit < 0, e 0 nos demais casos;
∆NIit-1
= variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1;
DPR = variável dummy, assumindo
valor 1 para empresas abertas e 0 para empresas fechadas;
eit = erro da regressão.
Mediante a importância dada à
persistência dos lucros, principalmente no que tange a sua relevância para
certos modelos de valuation, supõe-se
que esta qualidade é maior nas empresas abertas, as quais têm seus valores
mobiliários transacionados com enorme frequência ter estes negociados no mercado
de capitais. Deste modo, a persistência dos lucros seria uma qualidade
desejável para ajudar os agentes econômicos a prever os lucros e fluxos de
caixa futuros das empresas listadas como opções de investimento. Pela
relevância em se testar as diferenças na persistência dos lucros entre as
companhias abertas e fechadas, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa:
Hipótese 2: A
persistência dos resultados nas demonstrações contábeis é maior nas
instituições financeiras abertas que nas instituições financeiras fechadas.
Para testar a hipótese 2
utilizou-se o modelo desenvolvido por Dechow e Schrand (2004), mostrado na
equação (2):
Xit+1 = Xit + eit
em que:
Xit+1 = valor da
variável (lucro ou fluxo de caixa) na empresa i do ano t+1;
Xit= valor da variável (lucro ou fluxo de caixa)
na empresa i do ano t;
eit= erro da regressão.
Todas as
variáveis foram ponderadas pelos ativos totais no início do período.
4 Análise e Resultados da Pesquisa
4.1 Estatística Descritiva
A análise da estatística descritiva está contida na tabela
2. Tais estatísticas foram segregadas em grupos conforme o tipo de companhia, o
painel A evidencia os resultados referentes as companhias abertas e o painel B
apresenta os resultados das empresas fechadas. A tabela 2 possibilita verificar
e comparar os resultados entre as instituições financeiras abertas e fechadas.
Verifica-se que as maiores instituições financeiras (em
tamanho de ativos) estão classificadas como empresas abertas, assim como as menores.
Porém, em média, as instituições financeiras abertas são maiores que aquelas
fechadas, o mesmo ocorrendo com a mediana dos diferentes grupos. Em relação aos
lucros reportados por cada instituição, estes são (em média e mediana) maiores
para as empresas abertas, que também se destacam por conterem os pontos máximo
e mínimo desse indicador. Os desvios-padrão de todos os indicadores mostram-se
mais voláteis em instituições financeiras abertas que nas fechadas,
excetuando-se o desvio-padrão das variáveis “variação no lucro líquido contábil
da empresa i do ano t-1 para o ano t” e “variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1”.
Em se tratando do lucro
ponderado pelo ativo inicial de cada empresa (considerado como ROA) tem-se que
em média as instituições financeiras fechadas são mais lucrativas que aquelas
abertas, estando contidas neste tipo de empresa os valores máximos e mínimos
para a lucratividade auferida pelo ROA dessas instituições em geral. Os valores
máximos e mínimos para este indicador e para o crescimento dos lucros para o
período t e t-1 ponderado pelo ativo inicial do período em análise (∆ e ∆ ,
respectivamente) chamam bastante atenção por diferirem muito entre as
instituições financeiras abertas e fechadas, tendo estas últimas valores
máximos e mínimos maiores para as duas variáveis mencionadas.
4.2 Análise do conservadorismo e da persistência dos resultados contábeis
das instituições financeiras abertas e fechadas
Para analisar as qualidades da informação contábil
(conservadorismo e persistência dos resultados), foi utilizado o modelo de
regressão com dados em painel. Então, foram necessários testes estatísticos para
verificar se a estimação dos modelos se daria por Pooled Ordinary Least Squares (POLS), efeitos aleatórios ou efeitos
fixos para todos os grupos analisados. Inicialmente, mediante o teste de Chow, verificou a adequação do modelo
para estimadores por efeitos fixos e POLS, onde o teste rejeitou a hipótese
nula para estimação por modelo POLS. Posteriormente, foi utilizado o teste de Breusch-Pagan, para analisar a estimação
por POLS ou efeitos aleatórios, rejeitando a hipótese nula de adequação do
modelo por estimadores por POLS. Por último, realizou-se o teste de Hausman para verificar se a estimação
seria por efeitos fixos ou aleatórios, onde a hipótese nula de consistência dos
estimadores por efeitos aleatórios foi rejeitada. Então, os modelos utilizados foram
estimados com dados em painel com efeitos fixos.
Para melhor robustez dos parâmetros estimados pelos modelos
de regressão das análises dos dados em painel, fez-se necessário a verificação
dos pressupostos básicos de heterocedasticidade e de normalidade. Por meio do
teste de Wald, observou-se a presença
de heterocedasticidade, sendo os modelos estimados com erros-padrão robustos.
Em relação aos pressupostos da normalidade, os resíduos das regressões
apresentaram distribuição anormal ao nível de significância de 5%. Porém, como
base no Teorema do Limite Central e na Lei dos Grandes Números, esse
pressuposto pode ser relaxado (BROOKS, 2008), visto o grande número de
observação de cada um dos modelos.
A Tabela 3 apresenta os
resultados referentes à análise do conservadorismo das instituições financeiras
abertas e fechadas, mediante a equação 1. Considerando um nível de
significância de 5% pode-se considerar que a variável ∆NIit-1 (β2)
é estatisticamente diferente de zero, logo pode-se inferir que os resultados
positivos das companhias sofrem reversões em períodos subsequentes nas
demonstrações contábeis divulgadas pelas empresas.
Já na variável ∆NIit-1
* D∆NIit-1 (β3), na qual indica ou não
comportamento conservador, o coeficiente não é significativamente diferente de
zero, o que implica que não houve reconhecimento oportuno das perdas.
Na análise comparativa entre o conservadorismo entre as
instituições financeiras abertas e fechadas, todos os coeficientes de β4, β5, β6 e
β7 são insignificantes, logo,
esses resultados sugerem que não existe diferença no comportamento conservador
entre esses dois tipos de empresas.
Estes resultados diferem das evidências apresentadas por
Paulo, Antunes e Formigoni (2008), onde foi encontrado que o nível de
conservadorismo das companhias abertas é maior do que o das companhias
fechadas, porém deve-se levar em consideração que o estudo realizado pelos
autores considerou a 500 maiores empresas em operação no Brasil, conforme o
volume de vendas, no período de 2000 a 2004, atingindo diversas atividades
empresariais, enquanto que o presente estudo verificou apenas as instituições
financeiras brasileiras.
Portanto, os resultados
apresentados não confirmam a primeira hipótese desta pesquisa, sugerindo que
não existe diferença significativa no nível de conservadorismo entre as
instituições financeiras abertas e fechadas. A análise da persistência dos
resultados das instituições financeiras abertas e fechadas encontra-se na
Tabela 4. Observa-se que para esta qualidade da informação contábil, o grau de
ajustamento das variáveis ao modelo para as companhias aberta é maior (R² =
0,389) do que para as companhias fechadas (R² = 0,154), apresentando um melhor
poder preditivo no modelo utilizado.
A Tabela 4 demonstra que as companhias fechadas têm maior
persistência dos resultados contábeis do que as companhias abertas, a um nível
de significância de 5%, rejeitando a hipótese 2 deste trabalho.
5 Considerações Finais
O presente estudo teve como objetivo
verificar a qualidade das informações contábeis reportadas pelas instituições
financeiras do Brasil, buscando contribuir com o melhor entendimento do nível
de conservadorismo e persistência dos números contábeis reportados por este
tipo de empresa. A informação publicada pelas instituições financeiras pode
influenciar na tomada de decisões dos usuários desta informação e a qualidade
das informações contábeis pode auxiliar os usuários a obter uma visão mais
adequada acerca dos resultados e das práticas contábeis das empresas.
Visto a forte regulação a qual as companhias abertas estão
submetidas, por meio dos órgãos fiscalizadores do mercado de capitais
brasileiro, esperava-se que tal fato influenciasse no nível de conservadorismo
das instituições financeiras abertas, apresentando estas companhias um maior
nível de conservadorismo nos números contábeis reportados pelas empresas.
Porém, este estudo rejeitou a hipótese 1, onde verificou-se que, conforme a
análise dos resultados, que o nível de conservadorismo dos números contábeis
reportados não é significativamente diferente entre as companhias abertas e
fechadas.
No que se refere a persistência dos resultados contábeis
conclui-se, mediante as análises apresentadas, que os resultados contábeis das
companhias fechadas são mais persistentes que os resultados das companhias
abertas, rejeitando a hipótese de que os resultados das instituições abertas
são mais persistentes dos que as empresas fechadas. Este resultado pode sugerir
que a maior persistência dos resultados contábeis das instituições financeiras
fechadas se deve ao fato dessas firmas terem uma maior preocupação com a
informação reportada, onde uma menor volatilidade dos lucros representa menor
risco associado, obtendo assim melhores condições na captação de recursos com
seus credores.
Para futuras pesquisas sugere-se a análises das demais
dimensões da qualidade da informação contábil e a ampliação dos setores
analisados, bem como verificar a evolução do comportamento das características
da informação contábil ao longo do tempo.
Referências
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