quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Artigo Premiado - Análise do Conservadorismo e Persistência dos Resultados Contábeis das Instituições Financeiras Brasileiras

Olá, caros leitores, hoje apresentamos a vocês um artigo que foi premiado como Melhor Artigo da Divisão de Contabilidade no V AdCont 2014, na UFRJ. O artigo é de Autoria de dois professores do Departamento de Finanças e Contabilidade da UFPB, juntamente com dois mestrandos do programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/ UFPB/ UFRN.  

Análise do Conservadorismo e Persistência dos Resultados Contábeis das Instituições

Financeiras Brasileiras


Marcelo Paulo de Arruda
Programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/UFPB/UFRN marcelopaulo.jp@uol.com.br

Carlos André Marinho Vieira
Programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/UFPB/UFRN
c.andre.mv@gmail.com

Edilson Paulo
Programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/UFPB/UFRN
e.paulo@uol.com.br

Wenner Glaucio Lopes Lucena
Programa Multi-institucional e Inter-regional UnB/UFPB/UFRN wdlucena@yahoo.com.br

Resumo

O ambiente regulatório das companhias abertas e fechadas apresenta diferenças significativas na qualidade das informações contábeis entre as companhias abertas e fechadas (BALL; SHIVAKUMAR, 2005). Entretanto, a literatura tem sugerido que o processo de mensuração contábil das instituições financeiras se diferenciam substancialmente das demais companhias (PEASNELL et al, 2000). Apesar disso, os estudos anteriores não analisam sistematicamente as diferenças informacionais entre as instituições financeiras abertas e fechadas. Assim, podese descrever o seguinte problema de pesquisa: Os níveis de conservadorismo e de persistência apresentados pelas instituições financeiras abertas se diferenciam das fechadas? O objetivo deste trabalho foi analisar comportamento dos níveis de conservadorismo e de persistência dos resultados contábeis das instituições financeiras abertas e fechadas brasileiras. Para atender ao objetivo deste trabalho, foi efetuado uma análise dos dados com base nos modelos de conservadorismo proposto por Ball e Shivakumar (2005) e de persistência descrito por Dechow e Schrand (2004), estimados por meio de dados em painel. A amostra foi composta pelas instituições financeiras brasileiras abertas e fechadas no período compreendido entre 1996 e 2013. Os resultados desta pesquisa identificaram que nenhum dos tipos de instituição financeira (abertas e fechadas) apresenta reconhecimento oportuno das perdas ocorridas no período analisado. Em relação a persistência dos resultados contábeis, as análises apontam que as instituições financeiras fechadas apresentam maior persistência em seus resultados contábeis que as instituições abertas, resultando em maior previsibilidade dos lucros futuros pelos lucros presentes. Esses resultados sugerem que os resultados contábeis das instituições financeiras brasileiras não apresentam comportamento conservador, além disso, os lucros das companhias fechadas são mais persistentes do as abertas.

Palavras-Chave: Qualidade das informações contábeis; Conservadorismo; Persistência; Instituições Financeiras.

Área temática: Contabilidade Financeira.

1 Introdução

A Contabilidade tem como um dos seus principais objetivos fornecer informações para a tomada de decisão. Porém, a qualidade da informação contábil pode sofrer influência dos interesses dos agentes (JENSEN; MECKLING, 1976).

A qualidade das informações contábeis sofre influência das características institucionais e organizacionais das firmas e do ambiente empresarial (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010). Ao se analisar a qualidade das informações contábeis em companhias abertas e fechadas no Reino Unido, Ball e Shivakumar (2005) argumentam que companhias fechadas estão sujeitas a regulação similar àquela disposta para as companhias abertas, porém, seus usuários da informação contábil são substancialmente diferentes. Sendo assim, a forma de organização de uma empresa é considerada um fator que afeta a qualidade das informações reportadas pelas companhias.

A literatura corrente tem sugerido que o processo de mensuração contábil das instituições financeiras se diferenciam substancialmente das demais companhias (PEASNELL et al, 2000). Apesar disso, os estudos anteriores não analisam sistematicamente as diferenças informacionais entre as instituições financeiras abertas e fechadas. 

Sendo a persistência qualidade desejável para se prever o lucro das empresas tidas como opções de investimento pelos investidores dos mercados financeiros, é de se esperar que empresas abertas tenham um maior grau de persistência dos seus resultados que empresas fechadas.

Nichols, Wahlen e Wieland (2009) argumentam que, como bancos apresentam um elevado grau de assimetria de informação em relação ao risco das suas operações (risco de crédito, taxa de juros e de câmbio, instrumentos derivativos) a demanda por informações e particularmente, por uma visão menos otimista acerca dos seus resultados (conservadorismo). Com a separação entre propriedade e controle, o acionista muitas vezes deixa de ser um agente interno da empresa para se tornar um agente externo desta, ficando este dependente das informações contábeis como instrumento para diminuição da assimetria informacional entre o proprietário e o administrador. Nestes casos, a verificabilidade da informação contábil por este agente diminui, ficando este dependente das informações divulgadas pela administração e do parecer dos auditores independentes acerca desta informação.

O conservadorismo se desenvolve como uma qualidade que equilibra o viés otimista dos administradores acerca da informação contábil divulgada, principalmente em relação à incerteza associada à assimetria da informação, decorrente da separação entre propriedade e controle (WATTS, 2003).

Assim, pode-se descrever o seguinte problema de pesquisa: Os níveis de conservadorismo e de persistência apresentados pelas instituições financeiras abertas se diferenciam das fechadas? O objetivo deste trabalho foi analisar comportamento dos níveis de conservadorismo e de persistência dos resultados contábeis das instituições financeiras abertas e fechadas brasileiras.

Além dessa introdução, este trabalho contém a segunda seção que apresenta o referencial teórico sobre a informação contábil; a terceira parte é onde são descritos os procedimentos metodológicos utilizados; a quarta seção apresenta e analisa os resultados encontrados; e na quinta são feitas as considerações finais.

2 Revisão Da Literatura


No mercado financeiro há o intermédio de recursos entre aqueles agentes superavitários (poupadores) para aqueles agentes que necessitam de recursos para financiar seu consumo ou projetos de investimentos (agentes deficitários). Para que os recursos sejam alocados nas melhores oportunidades de investimento, são necessárias informações prévias sobre os agentes que o poupador pretende financiar, ou seja, os agentes nos quais ele pretende investir.

Estas informações são geradas por outros agentes denominados intermediários informacionais, podendo ser citados os auditores, analistas de ações, bancos de investimento. Muitas vezes a distinção entre os intermediários financeiros e os intermediários da informação não é nítida, pois alguns destes agentes operam nestes dois segmentos. Porém, no mercado financeiro, a informação não é fornecida igualmente para todos os agentes econômicos, gerando um fenômeno conhecido como assimetria informacional, onde um dos agentes envolvidos em alguma transação detém mais informação do que o outro, oscilando os níveis de informação conhecida pelas partes entre assimetria total e simetria total (MARTINS; LOPES, 2005).

Alguns autores (WATTS, 2003; BALL; SHIVAKUMAR, 2005, BUSHMAN;
PIOTROSKI, 2006) afirmam que a qualidade da informação contábil pode sofrer influência de diversos fatores, como o sistema de governança, regulação contábil e sistemas de normas, tributação, auditoria, ambiente institucional, entre outros. Por tratar-se de diferentes tipos de companhia (aberta e fechada) as diferentes estruturas organizacionais e estruturais podem acarretar em diferentes níveis na qualidade das informações contábeis reportadas por estas.

Dechow e Schrand (2004) afirmam que uma alta qualidade dos lucros (também denominada como qualidade das informações contábeis) refletirá o desempenho operacional atual das companhias, será bom indicador para o desempenho operacional futuro e fornecerá com maior acurácia o valor intrínseco da empresa. Com isto, pode-se inferir que é desejável uma alta qualidade das informações contábeis reportadas pelas companhias, pois estas podem afetar a tomada de decisões por parte dos investidores e demais usuários destas informações.

Segundo Dechow, Ge e Schrand (2010), a qualidade das informações contábeis pode ser considerada como um conjunto de diversos atributos, como persistência, conservadorismo, gerenciamento de resultados contábeis, qualidade na mensuração dos accruals, transparência, relação dos números contábeis com o desempenho dos preços das ações ou do valor de mercado da firma e nível de disclosure. O presente estudo tem como objetivo analisar as duas primeiras qualidades abordadas anteriormente, a persistência dos resultados e o conservadorismo contábil.

2.1 Conservadorismo

O entendimento geral conservadorismo contábil diz respeito à antecipação do reconhecimento de perdas, mas a não antecipação do reconhecimento dos lucros, ou a escolha de, entre duas opções de mensuração dos componentes das demonstrações contábeis igualmente prováveis, a preferência por aquela opção que consista em menor valor para os ativos e maior valor para os passivos. 

Basu (1997) conceitua o conservadorismo como o resultado que reflete as más notícias de forma mais rápida do que as boas notícias. Paulo, Cavalcante e Paulo (2013) corrobora esse entendimento, sugerindo que conservadorismo implica decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos ganhos e das perdas e, consequentemente, influencia a escolha contábil. Watts (2003) trata o conservadorismo como requisitos de verificação assimétrica entre ganhos e perdas, onde quanto maior a diferença no grau de verificação necessária para ganhos em relação as perdas, maior o conservadorismo. Este mesmo autor indica que pela distinção entre propriedade e controle, a informação contábil tem sua verificabilidade diminuída para os agentes externos à empresa, sendo o conservadorismo instrumento de balanceamento de qualquer viés otimista por parte dos administradores em relação aos resultados reportados.

O conservadorismo implica em decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos ganhos e das perdas e, consequentemente, influenciando a escolha contábil.
Porém, como outras características da informação contábil, o conservadorismo sofre influência do ambiente institucional e organizacional das empresas (PAULO; MATINS, 2007). Watts (1993) traz que esta qualidade da informação contábil é muito criticada pelos reguladores do mercado de capitais, órgãos legisladores e acadêmicos porque este “eufemismo” no período atual pode acarretar numa sobreavaliação de ganhos em períodos futuros.

Segundo Watts (2003), o conservadorismo assegura que não sejam reportadas informações excessivamente otimistas para os usuários das informações contábeis. Paulo e Martins (2007, p. 5) inferem que o mesmo “[...] implica em decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos ganhos e das perdas e, consequentemente, influencia a escolha contábil. Porém [...] o conservadorismo sofre influência do ambiente institucional e organizacional das empresas”.

Mediante os conceitos anteriormente apresentados, verifica-se que o conservadorismo está relacionado com momento ideal para o reconhecimento das transações econômicas das companhias e que este comportamento conservador por ser afetado conforme as características das empresas.

2.2 Persistência dos resultados contábeis

A persistência é uma das qualidades da informação contábil, onde Palepu, Healy e Bernard (2004) afirmam que a característica de predição é a responsável pelo enorme interesse em torno da persistência dos resultados contábeis, pois esta característica auxilia na avaliação dos ativos das companhias.

As pesquisas relacionadas à persistência dos lucros contábeis partem do pressuposto de que quanto mais persistentes os lucros das empresas, maior será sua utilidade para a utilização de modelos de valuation. Uma melhora do processo decisório num contexto de precificação de ações, em particular com a utilização de modelos que são variações do modelo neoclássico de dividendos descontado, ocorre se as variáveis base presentes (lucros, dividendos, fluxos de caixa) têm a característica de prever os resultados futuros (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010).

Dechow, Ge e Schrand (2010) afirmam que os fluxos de caixa são mais voláteis que os lucros contábeis, portanto os números contábeis têm maior poder preditivos dos resultados futuros do que os fluxos de caixa. Sendo que a utilização dos lucros como proxy para a persistência dos resultados contábeis tem validade somente quando estes refletem o verdadeiro resultado para um determinado período, estando livre de manipulações. Deste modo, os accruals são utilizados para suavizar os fluxos de caixa, diminuindo sua volatilidade (DECHOW; SCHRAND, 2004), refletindo mais adequadamente o desempenho da firma.

Porém, conforme Paulo e Martins (2007, p. 4) “quando ocorrem erros nas estimações dos accruals e resultados transitórios [...] existe uma redução da persistência dos resultados e isto leva à perda da utilidade da informação contábil na avaliação e previsão sobre comportamentos futuros do desempenho da empresa”. Isto se deve ao fato de algumas atividades empresariais necessitarem de mais estimações nos valores dos componentes das suas demonstrações contábeis conforme o regime de competência do que outras atividades, sendo muitas vezes estas estimações errôneas, arbitrárias ou até mesmo propositais, onde estas ocorrências reduzem a persistência dos lucros.

2.3 Estudos Anteriores

Beaty e Harris (1998) analisaram os resultados dos bancos abertos e fechados norteamericanos no período de 1991 a 1992, e verificaram que bancos abertos gerenciam mais resultados do que aqueles que não tem suas ações negociadas na bolsa de valores, sendo aceita a hipótese de que a assimetria informacional motiva empresas abertas a gerenciar resultados. 

Resultados divergentes foram encontrados na pesquisa de Burgstahler, Hail e Leuz (2006), onde foi analisado o efeito dos incentivos para a divulgação de lucros pelas empresas. O trabalho concluiu que o aumento de capital nos mercados de ações e o sistema legal estão associados com o nível de gerenciamento de resultados entre os países europeus, tendo como achado o fato de que o gerenciamento de resultados é mais difundido entre empresas privadas, sendo aceita a hipótese de que os incentivos fornecidos pelo mercado de capitais resultam em maior qualidade da informação contábil.

Nos estudos relacionados ao conservadorismo, Ball e Shivakumar (2005) utilizaram a hipótese de que as demonstrações financeiras das empresas fechadas apresentam menor qualidade em relação às empresas abertas em razão de a demanda do mercado por estas informações ser menor, sendo esta hipótese confirmada nos resultados da pesquisa.

Paulo, Antunes e Formigoni (2008) analisaram empresas brasileiras abertas e fechadas no período de 2000 a 2004. Os resultados da pesquisa mostram que as empresas fechadas apresentam menores níveis de conservadorismo contábil em relação as empresas abertas, tendo como possíveis razões para esta diferenciação nos resultados o fato de que as empresas abertas são mais amplamente monitoradas pelo mercado ou o fato de que estas empresas estão sujeitas a normas mais conservadoras pelos órgãos reguladores.

Dantas, Paulo e Medeiros (2013) buscaram analisar a ocorrência de conservadorismo condicional dos bancos brasileiros no período de 2001 a 2010, principalmente, relacionando-o com a percepção de risco. Com isto, os autores encontraram a existência de prática de conservadorismo condicional, porém, quando relacionado com a percepção de risco, os autores não encontraram evidências suficientes de maior acentuação do conservadorismo quando em momento de risco sistêmico.

Em relação aos estudos internacionais sobre conservadorismo, Nichols, Wahlen e Wieland (2009) examinaram como a estrutura de controle (bancos abertos e fechados) afeta a performance econômica e a informação contábil de 1.652 bancos fechados e 608 bancos abertos entre 1992 e 2002. Em relação à qualidade da informação contábil, os achados da pesquisa mostram que bancos abertos exibiam um maior grau de conservadorismo que aqueles fechados, além de reconhecerem um maior valor de provisão para créditos de liquidação duvidosas que aqueles abertos, considerando este como um componente que diminui o lucro informado.

3. Procedimentos Metodológicos

3.1 Tipo e Método de Pesquisa 

Quanto aos objetivos, esta pesquisa pode ser classificada como descritiva, pois o estudo busca “[...] observar, registrar, analisar e correlacionar fatos e fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.” (CERVO; BERVIAN, 2002, p.66).

O presente trabalho também se caracterizar, quanto aos procedimentos, como uma pesquisa bibliográfica, a qual segundo Gil (2008) é desenvolvida a partir de material já elaborado, principalmente livros e artigos científicos.

Por fim, o estudo também é classificado como uma pesquisa quantitativa, pois utilizase de modelos econométricos para alcançar os objetivos propostos pelo presente estudo.

3.2 Seleção e Composição da Amostra

A população deste estudo é formada pelas instituições financeiras abertas e fechadas brasileiras no período de 1996 a 2013, tendo como justificativa o início do período de estabilização econômica no país depois de décadas de combate à inflação (Tabela 1). As informações necessárias para a realização da pesquisa foram coletadas no banco de dados do Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br), compreendendo o período de 1995 a 2013.  



Como os dados disponíveis para este estudo iniciam-se em 1996, o período para análise do nível de conservadorismo das firmas foi de 1998 a 2013, visto que o modelo operacional utilizado na análise quantitativa necessita de dados defasados em dois anos. Já o período de análise do nível de persistência dos lucros necessita de dados posteriores ao exercício para avaliar a persistência do lucro no momento t, onde foram avaliadas as empresas do período de 1996 até 2012.
Observa-se na Tabela 1 que a não houve uma variação significativa nos números de instituições financeiras, abertas e fechadas, durante o período analisado.

3.3. Desenvolvimento de Hipóteses e Definição dos Modelos Empregados

Conforme Nichols, Wahlen e Wieland (2009) a separação entre propriedade e controle, presente principalmente nos bancos abertos, exige um maior grau de conservadorismo para a informação contábil reportada, para balancear qualquer viés otimista dos administradores acerca dos resultados obtidos.
Considerando que o ambiente institucional e organizacional das companhias afeta o conservadorismo (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010), bem como que as companhias abertas têm suas atividades monitoradas por mais órgãos reguladores, espera-se que tais companhias sejam mais conservadoras do que as companhias fechadas, apresentando a seguinte hipótese de pesquisa:

Hipótese 1: As demonstrações contábeis reportadas pelas instituições financeiras abertas brasileiras são significativamente mais conservadoras que as adotadas pelas companhias fechadas brasileiras. 

Para mensuração do nível de conservadorismo das companhias brasileiras, utilizou-se o modelo proposto por Ball e Shivakumar (2005), conforme equação (1): 


em que:

NIit = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t;
DNIit-1 = variável dummy para indicar se existe variação negativa no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t (∆NIit), assumindo valor 1 se ∆NIit < 0, e 0 nos demais casos;
NIit-1 = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1;
DPR = variável dummy, assumindo valor 1 para empresas abertas e 0 para empresas fechadas;
eit = erro da regressão.

Mediante a importância dada à persistência dos lucros, principalmente no que tange a sua relevância para certos modelos de valuation, supõe-se que esta qualidade é maior nas empresas abertas, as quais têm seus valores mobiliários transacionados com enorme frequência ter estes negociados no mercado de capitais. Deste modo, a persistência dos lucros seria uma qualidade desejável para ajudar os agentes econômicos a prever os lucros e fluxos de caixa futuros das empresas listadas como opções de investimento. Pela relevância em se testar as diferenças na persistência dos lucros entre as companhias abertas e fechadas, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa: 

Hipótese 2: A persistência dos resultados nas demonstrações contábeis é maior nas instituições financeiras abertas que nas instituições financeiras fechadas.

Para testar a hipótese 2 utilizou-se o modelo desenvolvido por Dechow e Schrand (2004), mostrado na equação (2): 
Xit+1 = Xit + eit
em que: 
Xit+1 = valor da variável (lucro ou fluxo de caixa) na empresa i do ano t+1; 
Xit= valor da variável (lucro ou fluxo de caixa) na empresa i do ano t;  
eit= erro da regressão.

Todas as variáveis foram ponderadas pelos ativos totais no início do período.

4 Análise e Resultados da Pesquisa

4.1 Estatística Descritiva

A análise da estatística descritiva está contida na tabela 2. Tais estatísticas foram segregadas em grupos conforme o tipo de companhia, o painel A evidencia os resultados referentes as companhias abertas e o painel B apresenta os resultados das empresas fechadas. A tabela 2 possibilita verificar e comparar os resultados entre as instituições financeiras abertas e fechadas.

Verifica-se que as maiores instituições financeiras (em tamanho de ativos) estão classificadas como empresas abertas, assim como as menores. Porém, em média, as instituições financeiras abertas são maiores que aquelas fechadas, o mesmo ocorrendo com a mediana dos diferentes grupos. Em relação aos lucros reportados por cada instituição, estes são (em média e mediana) maiores para as empresas abertas, que também se destacam por conterem os pontos máximo e mínimo desse indicador. Os desvios-padrão de todos os indicadores mostram-se mais voláteis em instituições financeiras abertas que nas fechadas, excetuando-se o desvio-padrão das variáveis “variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t” e “variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1”.












Em se tratando do lucro ponderado pelo ativo inicial de cada empresa (considerado como ROA) tem-se que em média as instituições financeiras fechadas são mais lucrativas que aquelas abertas, estando contidas neste tipo de empresa os valores máximos e mínimos para a lucratividade auferida pelo ROA dessas instituições em geral. Os valores máximos e mínimos para este indicador e para o crescimento dos lucros para o período t e t-1 ponderado pelo ativo inicial do período em análise ( e , respectivamente) chamam bastante atenção por diferirem muito entre as instituições financeiras abertas e fechadas, tendo estas últimas valores máximos e mínimos maiores para as duas variáveis mencionadas. 

4.2 Análise do conservadorismo e da persistência dos resultados contábeis das instituições financeiras abertas e fechadas

Para analisar as qualidades da informação contábil (conservadorismo e persistência dos resultados), foi utilizado o modelo de regressão com dados em painel. Então, foram necessários testes estatísticos para verificar se a estimação dos modelos se daria por Pooled Ordinary Least Squares (POLS), efeitos aleatórios ou efeitos fixos para todos os grupos analisados. Inicialmente, mediante o teste de Chow, verificou a adequação do modelo para estimadores por efeitos fixos e POLS, onde o teste rejeitou a hipótese nula para estimação por modelo POLS. Posteriormente, foi utilizado o teste de Breusch-Pagan, para analisar a estimação por POLS ou efeitos aleatórios, rejeitando a hipótese nula de adequação do modelo por estimadores por POLS. Por último, realizou-se o teste de Hausman para verificar se a estimação seria por efeitos fixos ou aleatórios, onde a hipótese nula de consistência dos estimadores por efeitos aleatórios foi rejeitada. Então, os modelos utilizados foram estimados com dados em painel com efeitos fixos.

Para melhor robustez dos parâmetros estimados pelos modelos de regressão das análises dos dados em painel, fez-se necessário a verificação dos pressupostos básicos de heterocedasticidade e de normalidade. Por meio do teste de Wald, observou-se a presença de heterocedasticidade, sendo os modelos estimados com erros-padrão robustos. Em relação aos pressupostos da normalidade, os resíduos das regressões apresentaram distribuição anormal ao nível de significância de 5%. Porém, como base no Teorema do Limite Central e na Lei dos Grandes Números, esse pressuposto pode ser relaxado (BROOKS, 2008), visto o grande número de observação de cada um dos modelos.

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes à análise do conservadorismo das instituições financeiras abertas e fechadas, mediante a equação 1. Considerando um nível de significância de 5% pode-se considerar que a variável NIit-1 (β2) é estatisticamente diferente de zero, logo pode-se inferir que os resultados positivos das companhias sofrem reversões em períodos subsequentes nas demonstrações contábeis divulgadas pelas empresas. 
Já na variável NIit-1 * DNIit-1 (β3), na qual indica ou não comportamento conservador, o coeficiente não é significativamente diferente de zero, o que implica que não houve reconhecimento oportuno das perdas. 

Na análise comparativa entre o conservadorismo entre as instituições financeiras abertas e fechadas, todos os coeficientes de β4, β5, β6 e β7 são insignificantes, logo, esses resultados sugerem que não existe diferença no comportamento conservador entre esses dois tipos de empresas.

Estes resultados diferem das evidências apresentadas por Paulo, Antunes e Formigoni (2008), onde foi encontrado que o nível de conservadorismo das companhias abertas é maior do que o das companhias fechadas, porém deve-se levar em consideração que o estudo realizado pelos autores considerou a 500 maiores empresas em operação no Brasil, conforme o volume de vendas, no período de 2000 a 2004, atingindo diversas atividades empresariais, enquanto que o presente estudo verificou apenas as instituições financeiras brasileiras.

Portanto, os resultados apresentados não confirmam a primeira hipótese desta pesquisa, sugerindo que não existe diferença significativa no nível de conservadorismo entre as instituições financeiras abertas e fechadas. A análise da persistência dos resultados das instituições financeiras abertas e fechadas encontra-se na Tabela 4. Observa-se que para esta qualidade da informação contábil, o grau de ajustamento das variáveis ao modelo para as companhias aberta é maior (R² = 0,389) do que para as companhias fechadas (R² = 0,154), apresentando um melhor poder preditivo no modelo utilizado. 

A Tabela 4 demonstra que as companhias fechadas têm maior persistência dos resultados contábeis do que as companhias abertas, a um nível de significância de 5%, rejeitando a hipótese 2 deste trabalho. 

5 Considerações Finais

 O presente estudo teve como objetivo verificar a qualidade das informações contábeis reportadas pelas instituições financeiras do Brasil, buscando contribuir com o melhor entendimento do nível de conservadorismo e persistência dos números contábeis reportados por este tipo de empresa. A informação publicada pelas instituições financeiras pode influenciar na tomada de decisões dos usuários desta informação e a qualidade das informações contábeis pode auxiliar os usuários a obter uma visão mais adequada acerca dos resultados e das práticas contábeis das empresas.

Visto a forte regulação a qual as companhias abertas estão submetidas, por meio dos órgãos fiscalizadores do mercado de capitais brasileiro, esperava-se que tal fato influenciasse no nível de conservadorismo das instituições financeiras abertas, apresentando estas companhias um maior nível de conservadorismo nos números contábeis reportados pelas empresas. Porém, este estudo rejeitou a hipótese 1, onde verificou-se que, conforme a análise dos resultados, que o nível de conservadorismo dos números contábeis reportados não é significativamente diferente entre as companhias abertas e fechadas.

No que se refere a persistência dos resultados contábeis conclui-se, mediante as análises apresentadas, que os resultados contábeis das companhias fechadas são mais persistentes que os resultados das companhias abertas, rejeitando a hipótese de que os resultados das instituições abertas são mais persistentes dos que as empresas fechadas. Este resultado pode sugerir que a maior persistência dos resultados contábeis das instituições financeiras fechadas se deve ao fato dessas firmas terem uma maior preocupação com a informação reportada, onde uma menor volatilidade dos lucros representa menor risco associado, obtendo assim melhores condições na captação de recursos com seus credores.

Para futuras pesquisas sugere-se a análises das demais dimensões da qualidade da informação contábil e a ampliação dos setores analisados, bem como verificar a evolução do comportamento das características da informação contábil ao longo do tempo.

Referências


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